De acordo com a pesquisa Datafolha de 2019, encomendada pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dessas, 76,4% foram abusadas por pessoas próximas ou parentes. Além disso, dados do Anuário de Segurança Pública 2019, no Brasil, mostram que a cada 4 horas, uma menina é estuprada por seu pai, padrasto, tio, primo ou vizinho.
Este foi o caso também de Eve Ensler, escritora, dramaturga e ativista feminista norte-americana, que foi abusada por seu pai dos 5 aos 10 anos de idade. Eve passou as últimas duas décadas em viagens pelo mundo denunciando homens por abusos sexuais e violência contra mulheres. Mundialmente conhecida pela obra Os Monólogos da Vagina, decidiu dar voz a seu pai em seu novo livro O Pedido de Desculpas, lançado pela Editora Cultrix, selo do Grupo Editorial Pensamento.
Por meio de um texto sucinto e revelador, em uma carta franca, cujo narrador é seu próprio algoz, a autora traz um olhar libertador sobre o tema do abuso feminino, seja ele de ordem sexual, moral ou material. Eve ainda mostra, de forma original e comovente, como, pelas feridas criadas na infância, podemos ressurgir e nos reinventar.
“Se você, mulher, fosse vítima de violência sexual e pudesse ‘acertar as contas’ com seu abusador, o que diria a ele? E o que esperaria obter de resposta? Como podemos deixar a humilhação de lado e encontrar a libertação tão necessária para que tenhamos uma vida mais plena após tanta violência e abusos? ”. É por meio de perguntas como essas que Eve constrói a narrativa de sua obra que, mais do que um acerto de contas, é uma maneira de compreender, dialogar com o ser humano poder se libertar do passado.
Em entrevista à BBC, a autora revelou que “Era invasivo, asqueroso, então comecei a ver como a estranha adoração, a obsessão de meu pai por mim começou a eclipsar todo o resto. A situação começou a mudar quando chegou uma noite em que me afastei dele, fingi que estava morta. Foi nesta noite que o abuso sexual acabou. Eu tinha dez anos”. Ela conta também que, já no início da idade adulta, constantemente escrevia cartas ao seu pai, pedindo desculpas. “Ele me fazia me sentir culpada, mas também havia uma parte de mim que acreditava que se eu pedisse perdão o suficiente, ele faria o mesmo, e isso nunca aconteceu. E os homens precisam aprender a se desculpar. E nunca ouvi um homem que cometeu um estupro ou violência física se desculpar publicamente”.
“Esta carta é uma invocação, um chamamento. Tentei fazer com que meu pai conversasse comigo a seu modo. Embora eu tenha escrito as palavras que eu precisava ouvir dele, tive que abrir espaço para que ele falasse sob meu intermédio”, diz ela, na apresentação do livro, que apresenta o texto como uma maneira de exorcizar os fantasmas do passado causados pelos abusos.
Escritora best-seller publicada em 48 idiomas e dramaturga com peças interpretadas em mais de 140 países, Eve Ensler foi escolhida uma das “150 Mulheres que Mudaram o Mundo”, pela revista norte-americana Newsweek e uma das “100 Mulheres Mais Influentes”, segundo o jornal britânico The Guardian. Seu trabalho como ativista contra a violência de gênero ganha mais um capítulo com este livro, para que outras mulheres, vítimas de quaisquer tipos de abusos, possam se libertar do mal que sofreram de forma definitiva.
Elogios ao livro:
“Como só ela sabe fazer, Eve Ensler conta a história da traição máxima que um pai poderia perpetrar com candura imbatível e graça imensurável. ” – Anita Hill
“Uma ferida e ao mesmo tempo um ato impressionante de perdão… Eve Ensler amplia de maneira inexorável nossa compreensão da experiência humana. ” – Michael Cunningham
“Um passo crucial no processo do fim da violência contra mulheres e meninas. Trata-se de um livro de necessidade premente no momento atual. ” – Jane Fonda
“Um verdadeiro triunfo do talento literário e da empatia de Eve Ensler. Um livro como nenhum outro. Nenhuma mulher será mais a mesma depois de lê-lo. ” – Naomi Klein
Eve Ensler é dramaturga, escritora, atriz e ativista vencedora do Prêmio Tony. Escreveu o best-seller internacional Os Monólogos da Vagina, ganhador de um Obie, publicado em 48 idiomas e interpretado em mais de 140 países. É autora de muitas peças teatrais e livros, entres eles, I Am An Emotional Creature, best-seller do New York Times. Há pouco, transformou seu altamente elogiado livro de memórias, In The Body of The World, em uma peça aclamada pela crítica no American Repertory Theater e no Manhattan Theatre Club. Sua peça Os Monólogos da Vagina deu origem ao V-Day (Dia da Vitória), movimento ativista global para acabar com a violência de gênero. Graças a produções beneficentes de seus trabalhos artísticos, o movimento V-Day levantou mais de 100 milhões de dólares e fundou mais de 13 mil comunidades orientadas por programas antiviolência e abrigos no mundo todo. Eve também fundou o One Billion Rising, maior campanha global de combate à violência contra mulheres e meninas. É cofundadora, com Christine Schuler Deschryver e o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2018, dr. Denis Mukwege, da City of Joy, um centro revolucionário de tratamento para mulheres sobreviventes da violência na República Democrática do Congo. Foi escolhida uma das “150 Mulheres que Mudaram o Mundo”, da Newsweek, e uma das “100 Mulheres Mais Influentes” do The Guardian. Mora em Nova York, nos Estados Unidos.
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