Quando falamos de Walter Salles, falamos também de Brasil no Oscar. O homem que com meros 40 anos levou Fernanda Montenegro pra um tapete vermelho que parecia distante aos nossos olhos brasileiros, reaparecer agora com quase 70 e lançar um aclamado filme, de novo sobre Brasil, de novo sobre sociedade, de novo sobre história e construção, e de novo com uma representante da família, a filha Fernanda Torres.
Que linda história é essa, não?
Quando falando de Oscar, e da injustiça travada na batalha pelo prêmio 25 anos atrás, colocamos a academia, a indústria, os Estados Unidos, todos como “não-valorizantes da cultura terceiro-mundista”. É verdade.
Mas não somos muito diferentes, não.
Em 2022 nossos vizinhos argentinos colocaram no páreo da disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro o filme Argentina, 1985. O filme retrata uma história que pra nós, agora sim, é distante, é pura ficção. O promotor de justiça que montou uma equipe que correu contra o tempo e contra o sistema sozinhos para articularem o julgamento dos Generais Militares que comandaram a ditadura argentina de forma cruel e sanguinária. Julgados, condenados, punidos. Mas que acima disso, coube a declaração da frase que até hoje ecoa no povo argentino: “Nunca Más!”
Por aqui, não tivemos isso.
Nossa ditadura, muito mais longa, acabou com uma lei da Anistia que deixou livres os Generais, os Capitães, os Torturadores. E que hoje é por alguns exaltada como período de grande paz e prosperidade, irônico?
A verdade é que pra nós, ela segue viva, ela ainda está aqui. E o que Walter Salles, em conjunto com uma equipe espetacular de atores, produtores e técnicos nos entrega, é exatamente o filme que merecemos: uma lembrança de que os que foram mortos seguem mortos, mas os que mataram estão vivos, em vida e na memória.
Se o Oscar vai trazer pra nós a mesma indicação que os argentinos conseguiram, é difícil saber, quanto a um prêmio? Mais ainda.
Mas ter um filme nacional atingindo o posto de maior bilheteria no país já mostra uma mudança de patamar para nós, os brasileiros.
Assistam. Recordar é viver. Memória é mudança, memória é tradição, memória é vida, memória é democracia.
E que um dia, possamos enfim dizer o tão sonhado Nunca Mais!, que nossos irmãos puderam.
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